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sexta-feira, 3 de junho de 2022

Serra da Barriga no Imaginário do Capoeirista.

  Por: Denivan Costa de Lima (Denis Angola)


Foto: Januário Garcia - 1985 - Tombamento da Serra da Barriga

Acervo do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena (NEABI) - UFAL.

É possível datar a foto, datar a época e o dia com muitos registros fotográficos, os registros são importantes para olharmos e pensar no passado, atuar no presente e projetar o futuro. Essa é a sensação que me causa ao ver essa foto da década de 80, momento quando o Movimento Negro Brasileiro estava em meio a tantas lutas e conquistas, assim foi com a idealização do hoje Parque Memorial Quilombo dos Palmares e a capoeira estava proativamente presente. É olhando para essa fotografia que fiquei me perguntando, quando foi que se tornou tão importante para mim como capoeirista subir a serra da barriga no 20 de novembro? Iniciei a capoeira em 1997, e desde aquele momento encontrei diversos capoeiristas, alunos, professores e Mestres de capoeira e já tinha em seu imaginário o desejo de subir a serra.
Também aprendi uma tradição que consistia em subir a serra a pé, e que todos capoeiristas iniciantes tinham que passar por esse ritual para se sentir parte da história da negritude. Esse ritual de passagem faz parte do processo ainda hoje em alguns grupos de capoeira, mas muita coisa mudou. A Capoeira e o capoeirista é produto de seu tempo, refletindo assim posso afirmar que estes corpos negros do passado viveram e lutaram suas batalhas. O enfrentamento ao racismo sistemático daquela época tinha outras características, em nosso tempo presente nós ainda lutamos as mesmas lutas, avançamos em alguns setores, mas em outros retrocedemos.
É preciso voltar ao passado, escutar a velhas vozes negras, fazer a volta no mundo da capoeira se reconectar com Sankofa, porque nosso presente é um constante ataque ao pouco que conquistamos daquilo que chamamos de democracia, e nós capoeiristas temos a obrigação de repensarmos novas estratégias de combate, pois percebo que atualmente nas músicas de capoeira trás a celebração uma de negritude que tem morrido, uma juventude que não atinge sua fase adulta, por isso conclamo que nossas músicas ainda sejam sobre a luta contra o racismo e qualquer forma de intolerância, dentro e fora do universo da capoeira.

No Quilombo dos palmares
É lugar de tradição
Todo 20 de novembro 
É aquela procissão
Quem não veio em Alagoas
É preciso conhecer
O lugar que tem mandinga
E festa para preto ver
A expressão da negritude
Celebrando os ancestrais
São Bento grande, São Bento pequeno
Angola e Regional
O atabaque vai marcando 
Ao som de um berimbau camará
iê viva meu Deus
Iê a tradição
Iê do capoeira
jogo entre irmão
CD - São Bentro 
Letra e vóz: Contramestre Denis Angola

3 comentários:

  1. Saudações . . .
    Em 1° mandar um forte abraço e muito axé ao guerreiro, através da postagem em grupo interno pode acompanhar o post do irmão.

    Realmente uma breve e grande reflexão sobre o que é o primeiro contato com a Serra e o costume/tradição de se fazer desta forma, "subindo a pé ' aos que pela primeira vez se faz este contato e se não por dizer em primeiro plano um encontro com seu lado imaterial.

    Forte abraço mais uma vez guerreiro sucesso sempre.

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