segunda-feira, 18 de julho de 2011

Capoeira é um modo ou um meio de Educar?.

Por: Denivan Costa de lima















Começo meu texto com um questionamento, a Capoeira é um meio ou um modo de educar? Enquanto meio de educar ela poderá perder o seu formato que mais a identifica que é a resistência a modos de organizações de sociedade onde sempre ou quase sempre a Cultura Negra é desvalorizada e descriminada. Afirmo isso, pois ao tratarmos a Capoeira como um meio de educar estamos afirmando que a mesma enquanto prática educacional por si não funciona para esta sociedade, e com isso estaremos, mas uma vez tratando a cultura do negro como inferior a cultura do homem branco que “projeta” problemas e tem os “resultados” resolvidos e com dados burocráticos onde quase sempre é sobre o negro que estão falando.

Tentar transformar a Capoeira em processo interdisciplinar também é uma alternativa de meio de educar daqueles que ainda detém o “conhecimento” sob qual metodologia seria mais interessante a aplicar em crianças com vulnerabilidade social. Formas de pensar o corpo em desenvolvimento já foi

discutida por Jean Piaget, onde o mesmo trata das varias fases do desenvolvimento motor e sabemos que é importante para entendermos como iremos aplicar exercícios próprio da Capoeira para crianças em determinadas idades e quais os benefícios que este conhecimento pode trazer para corpo.

Enquanto modo de educar veremos no discurso dos mestres que a Capoeira educa e forma cidadão, proporciona reflexão entre os participantes e enquanto modelo e educacional é mais realista uma vez que na escola formal a educação das crianças não é prioridade.

Algumas décadas atrás a Capoeira que foi proibida de ser jogada e hoje em pleno século 21 esta em mais de 150 países sendo valorizada e estudada como modo educacional resolvendo problemas que no campo das ciências educacionais não poderia ter sido resolvido, e que no Brasil ainda estamos tentando adaptá-la a modelos que não corresponde à realidade de nossas crianças que são as freqüentadoras das escolas formais públicas.


Concluo esta pequena reflexão afirmando que a Capoeira por si aglutinou negros para formar ideais de vidas melhores para esta população que sempre esteve sendo discriminada e destratada enquanto ser humano pensante, por tanto afirmo que politicamente a Capoeira pode ser um modo educacional, porém algumas características da Capoeira não se negociam, como por exemplo, que ela é uma luta de contato e que teremos que ensinar uma rasteira e que teremos que levantar para continuar o jogo, pois só assim seremos Capoeiristas, teremos que ensinar os toque que existem no berimbau, as musica de Capoeira Angola e Regional, sobre as histórias dos velhos e novos mestres de Capoeira. Enquanto meio de educar deixo uma reflexão que é a seguinte, a Capoeira sempre se adaptou para sobreviver e nunca perdeu nem vai perder seu caráter revolucionário por tanto o capoeirista atual deve se adaptar a novas tecnologias e estratégias do poder para saber quando a Capoeira esta sendo usada e quando interferir nesse processo e colocar a Capoeira num patamar a que ela merece.

Capoeira e Processo Criativo




Capoeira e Processo Criativo para Dança.

Durante meus estudos da Dança da Universidade Federal de Alagoas tive a oportunidade ampliar o conhecimento sobre a dança a partir da capoeira, com projetos que tinha perspectiva de unificar técnicas da capoeira para composição de espetáculos de dança entre os anos de 2009 a 2011. Foi nesse período que pensei num projeto de experimentação dessa unificação, dança contemporânea e capoeira.
Estudei técnicas de contato improvisação, técnica que nasceu nos EUA, no início da década de 70, com Steve Paxton, e é associada ao movimento de contra-cultura por ser uma dança igualitária e democrática e o estudo do movimento de Rudolf Laban, nasceu em 1879 em Bratislava Hungria, e morreu em 1958. Desenvolveu uma forma de dança Expressionista em que o objetivo principal residia na expressão das emoções e hoje é considerado um dos maiores teóricos da dança, e pude estudar as técnicas Klauss Vianna na década de 60 no Brasil, ficou conhecida como um trabalho de consciência corporal, tema que foi base de minha formação graduado em dança.
Apesar de não ser especialista profundo desses teóricos, conhecer e estuda-los no curso de dança foi importante, pois com a capoeira pude encontrar conexão entre prática e teoria, com isso desenvolvi uma oficina de Capoeira e Processo Criativo de Dança e a partir da musicalidade, expressividade, movimento e comunicação rítmica corporal que a capoeira produz.
Ressalto aqui que pensar numa outra perspectiva da capoeira, que não apenas a luta, e conectar-se diretamente com contato-improvisação, dança expressionista, consciência corporal com o próprio universo da capoeira não foi fácil, mais fez contemplar momentos de muito conhecimento e prazer. Produzir dança é produzir conhecimento em seu corpo, e em contato com o movimento do outro e a capoeira faz isso com perfeição.
Apliquei essa oficina no projeto de extensão, assim como em congressos acadêmicos e festivais de dança no Brasil e em Portugal, a partir dessa conectividade entre capoeira e dança, montei um solo de dança chamado Urucungo, onde a base era a música e a dança da capoeira, Urubumbaguele, toda a base de movimento foi da capoeira regional, e por fim o Espetáculo de dança Saravá.
No Espetáculo Saravá, essa conexão entre capoeira, contato improvisação e direção artística a partir dos elementos da natureza, a água, a argila e a palhas de bananeira, assim como os cantos de tradições indígenas e a dança toré, e movimentos de capoeira e dança afro trouxe-me ao universo da dramaturgia da dança.
A oficina de Capoeira e Processo Criativo para a Dança é um trabalho na perspectiva de facilitar na busca do autoconhecimento e entendimento corporal, assim como estrutural do corpo para execução de movimentos de dança e da própria capoeira, com consciência corporal e percepção de espaço e movimento a partir da linguagem da Capoeira.




C.m. Denis Angola